Com cartas de escravos e moeda de Cleópatra, professor expõe acervo

Luciano Alonso tem acervo adquirido em leilões, inclusive, uma carta de compra e venda de uma criança de 12 anos em 1842.
Réplica do pergaminho de couro de cabrito com texto sobre literatura (Foto: Marina Pacheco)
Professor de História, Luciano Alonso tem um acervo de antiguidades e gosta, usando os objetos, de falar do passado, desde antes de Cristo. Com moedas, cédulas, pergaminhos e documentos milenares, comprados em leilões, Luciano organizou a mostra “Do passado abrindo os olhos para o futuro”, na Biblioteca Isaías Paim, em Campo Grande.
A importância da história enquanto ciência é poder despertar nas pessoas o sentido de ser um ator social, de se perceber como agente da história”, afirma Luciano, aos 42 anos. A proposta, segundo ele, é incentivar as pessoas a conhecerem mais o passado.

Na exposição estão moedas que ele explica como eram feitas. "Eles derretiam o bronze, pegavam a moeda quente, colocavam no molde e davam uma marretada. Nisso a imagem ia para moeda através dessa martelada”, conta sobre o processo de produção dos objetos.

“Uma moeda contém informações importantes, tem moeda de 150 A.C. [Antes de Cristo] que se não fosse por ela, seria impossível comprovar alguns argumentos que estão na bíblia”, destaca. As moedas são em vários formatos, redonda, oval, pequena, grande, bronze e prata. Cada objeto carrega valores dos antepassados, que são revelados através das pesquisas.

Luciano é artista plástico e se formou em História em 2018. Entretanto, desde criança se interessa pelo tema. “Fui estudando a vida dos grandes mestres como Leonardo da Vinci, Michelangelo, Rembrandt”, conta.

Ele passou a comprar antiguidades em leilões para se aprofundar mais nas buscas e mostrar aos alunos na sala de aula. “Estamos deixando registros que poderão ser estudados/acessados por outros no futuro. Comecei a estudar e gostar de antiguidade, achei que tendo os objetos poderiam estimular os alunos”.
Moeda da época das Cruzadas de 1258 (Foto: Marina Pacheco)Moeda da época das Cruzadas de 1258 (Foto: Marina Pacheco)
Moeda da Alemanha Ocidental, do período da Guerra Fria (Foto: Marina Pacheco)Moeda da Alemanha Ocidental, do período da Guerra Fria (Foto: Marina Pacheco)
Moedas históricas estão a mostra na Biblioteca Isaías Paim (Foto: Marina Pacheco)Moedas históricas estão a mostra na Biblioteca Isaías Paim (Foto: Marina Pacheco)
Moedas antigas - Para a mostra desta semana, o historiador separou alguns objetos de épocas e de regiões diferentes. Os visitantes vão poder ver o dinheiro do rei Herodes - O Grande. “Era o rei da Judeia, não gostou quando nasceu uma criança chamada de rei e mandou matar mais de duas mil crianças para tentar impedir que o menino Jesus se tornasse o rei. Aí que eles [família de Jesus] fugiram para o Egito”, conta. “O Rei Herodes é dos anos 40 a 4 A. C.”, completa.

Tem a moeda de Nicolau II, que foi o último Czar (imperador) da Rússia. “Além de ter sido deposto pela Revolução Russa em 1917, ficou conhecido por suas ligações com o estranho monge camponês Gregory Rasputin, que acabou se tornando influente na corte e muito próximo da família imperial”.

“No ano da cunhagem desta moeda, 1904, Nicolau II estava às voltas com o ataque japonês na Guerra Russo-Japonesa que o levaria quase à perdição. A moral do Czar vinha enfraquecendo gradualmente e com a derrota para os japoneses só piorou. Estes eventos certamente contribuíram para a revolução de 1905, chamada de ‘Ensaio Geral’ para a grande revolução russa de 1917”, comenta Luciano sobre a história da moeda de Nicolau II.

Outra relíquia do acervo é a moeda da Cleópatra, a rainha mais famosa do Egito que tem o rosto desenhado no dinheiro. “Essa é do ano de 30 A.C. de quando teve a guerra civil entre o Egito e Roma. Ela seduz o general Marco Antônio que a protege. Contudo, eles foram vencidos por Otávio Augusto, que era sobrinho de Júlio Cesar [governante de Roma]”. Na mostra tem a moeda de 30 A.C. que é pequena e a Egípcia feita em 2008, mais moderna.

Dá para voltar no tempo também com a moeda medieval das Cruzadas, feita em formato oval com relevos. “Moeda da época das Cruzadas. Cruzados de Jerusalém em 1258. É um tipo imitativo, ou seja, os cristãos cunharam essa moeda em Jerusalém, imitando as moedas árabes da dinastia Ayubida, a de Saladino. A inscrição em árabe diz o nome do filho de Saladino, Ismail”.

“Ainda tem as moedas gregas com Atena, Zeus e uma com a cidade de Siracusa [atual Itália], que foi onde o engenheiro Arquimedes de Siracusa nasceu”, diz Luciano. O acervo conta com a moeda de Dom Pedro, que era do pai do historiador. “Meu pai juntava moedas de 20, 30 réis”. Tem também a moeda prata com o desenho de um falcão que é da Alemanhã Ocidental, do período de Guerra Fria.

 
Moeda Egípcia de 2008, com o rosto da Cleópatra, rainha do Egito (Foto: Marina Pacheco)Moeda Egípcia de 2008, com o rosto da Cleópatra, rainha do Egito (Foto: Marina Pacheco)
Cédulas de dinheiros com imagem de pessoas influentes expostas (Foto: Marina Pacheco)Cédulas de dinheiros com imagem de pessoas influentes expostas (Foto: Marina Pacheco)
Luciano é artista plástico e se formou em História em 2018. (Foto: Arquivo Pessoal)Luciano é artista plástico e se formou em História em 2018. (Foto: Arquivo Pessoal)
Cédulas - O historiador traz também dinheiros antigos, com cédula cubana de Che Guevara que é usada até hoje; da Índia com a imagem de Mahatma Gandhi; de Israel com a foto do físico Albert Einstein; e da Rússia com a figura do ex-governante Vladimir Lênin. “Cédulas internacionais do século 20, da antiga da União Soviética com a imagem de Vladimir Lênin, que comandou a Revolução Russa. Mas a cédula é de 1961”.

Vai estar exposto também uma réplica de pergaminho feito de couro de cabrito, que era muito usado naqueles tempos. “É um suporte da escrita mais antigo e dura uns três mil anos. A maioria do texto bíblico foi escrito em pergaminho. Confeccionei em 2018 e escrevi um texto medieval sobre literatura. Uso como forma de divulgação e estimulação científica na história”, afirma.

O acervo conta com publicações de jornais (Foto: Marina Pacheco)O acervo conta com publicações de jornais (Foto: Marina Pacheco)
Em documentos raros, o historiador mostra arquivos do Império de Portugal. O acervo conta com publicação de jornais antigos. “É interessante. Em 1985 foi quando acabou a ditadura militar desde 1925. Não é raro nem antigo, mas reproduz o que foi o passado”. Além disso, os participantes vão poder ler um manuscrito de Carlos Pretin de Carvalho, de 1950.

Outro arquivo que também chama atenção é a tabela de tributação sobre a propriedade de escravos de 1840 a 1870. “Tem o nome de 11 escravos e a forma como eles trabalhavam. Vem impressa e os proprietários levavam a igreja e lá recebiam carimbos do império porque cobrava imposto sobre os escravos. Tem pessoas de 25 a 2 anos de idade”, relata. Tem jornal “Correio do Povo” de 1889, que foi divulgado pela imprensa republicana e impresso no dia 16 de novembro daquele ano, com a manchete “Proclamação da República”. Contudo, não há certeza se é um documento original ou se é uma reprodução feita na década de 60, 70. “Está sendo analisado ainda”.

Tabela de tributação sobre a propriedade de escravos (Foto: Marina Pacheco)Tabela de tributação sobre a propriedade de escravos (Foto: Marina Pacheco)
Carta de compra e venda da escrava Isidora (Foto: Marina Pacheco)Carta de compra e venda da escrava Isidora (Foto: Marina Pacheco)
















Carta - Entre os documentos, ainda está a carta, quase apagada, de compra e venda de uma escrava de nome Isidora, de mais ou menos 12 anos de idade, pela quantia de quatrocentos e vinte e cinco contos de réis, do senhor Carlos Celestino de Carvalho Mello ao Senhor Antônio Gomes Pinto Pedroso, no ano de 1842.

Mostra - A exposição está repleta de arquivos que vão despertar a curiosidade e “revelar” coisas que aconteceram no passado. A mostra continua até dia 19 de agosto e conta também com exibição de livros raros. A biblioteca funciona Horário de segunda a sexta-feira, das 7h30 às 17h30 e no sábado das 8h às 13h.

Vale conferir a exposição que te levará a um passeio pela história, dando um “pulinho” no império de Roma, Egito, Rússia, etc.

“A História não é só a narrativa da vida de estadistas e generais, ela é feita por todos. O que dá sentido à história é a possibilidade de todos terem a consciência de ser parte dela e participar da construção e transformação da sociedade”, conclui.
Cédula de Israel de 1969 de Albert Einsten (Foto: Marina Pacheco)Cédula de Israel de 1969 de Albert Einsten (Foto: Marina Pacheco)
Cédula de Mahatma Gandhi de 10 rúpias (Foto: Marina Pacheco)Cédula de Mahatma Gandhi de 10 rúpias (Foto: Ma














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