Equipes buscam em templos e na costa de Alexandria por indícios da famosa rainha egípcia
No fundo do mar de Alexandria, no Egito, um grupo internacional de mergulhadores explora a ruínas submersas do palácio e complexo onde a rainha Cleópatra reinou. Eles nadam por ...
blocos de pedra calcária amontoados por terremotos e tsunamis há mais de 1600 anos, e assim recuperam estonteantes artefatos da última dinastia a governar o Egito antigo, antes de sua apropriação pelo Império Romano no ano 30 a.C. Leia Mais
O grupo está explorando os aposentos reais de Alexandria, encerrados na profundeza da costa egípcia, e confirmando a precisão das descrições da cidade feitas pelos geógrafos e historiadores gregos mais de 2000 anos atrás.
Desde o começo da década de 1990, pesquisas topográficas permitiram à equipe, liderada pelo arqueólogo submarino Franck Goddio, conquistar a baixa visibilidade das águas e escavar abaixo do solo oceânico. Eles estão descobrindo desde moedas e objetos cotidianos até estatuais colossais em granito dos governantes egípcios e templos afundados dedicados aos seus deuses. “É um sítio único no mundo,” diz Goddio, que passou duas décadas procurando por naufrágios e cidades perdidas no fundo dos mares.
Um palácio no fundo do mar
Os aposentos reais de Alexandria – portos e ilhas repletos de templos, palácios e postos militares – simplesmente afundaram após terremotos nos séculos IV e VIII. A equipe os achou em 1996. Muitos dos tesouros estão intactos, envolvidos em sedimentos que os protegem da água salgada. “Estão exatamente como quando afundaram,” relatou Ashraf Abdel-Raouf, do Conselho Supremo de Antiguidades (CSA) egípcio, que integra a equipe.
Um dos mergulhos explorou o palácio e templo onde Cleópatra, a última rainha da dinastia ptolemaica, seduziu o general romano Marco Antônio antes do suicídio de ambos, depois de terem sido derrotados por Otávio, o futuro imperador César Augusto. Goddio e equipe nadaram por alguns dos cenários mais importantes da vida do casal, incluindo um aposento encomendado por Marco Antônio, para ser uma espécie de retiro, e que o general não chegou a ver concluído.
Também encontraram uma cabeça de pedra, que acreditam retratar Cesário, filho de Cleópatra e Júlio César, e duas esfinges, uma delas provavelmente representando o pai de Cleópatra, Ptolomeu XII.
No barco, os pesquisadores mostraram algumas descobertas recentes: cerâmicas importadas, a estatueta de um faraó, vasos rituais de bronze, amuletos poucos maiores que uma unha, e vasinhos de chumbo jogados na água ou enterrados pela população como oferendas aos deuses.
O porto leste de Alexandria foi abandonado após outro terremoto no século VIII, e foi deixado intocado como uma baía aberta, enquanto o porto moderno da cidade foi construído do lado oeste. Isso deixou o Portus Magnus quieto embaixo do oceano. “Temos um campo aberto para a arqueologia,” disse Goddio.
Estátua sem cabeça em Taposiris Magna reforça os laços do templo com Cleópatra
E onde estão as múmias?
A 45 quilômetros dali, arqueólogos de terra firme estão escavando o templo de Taposiris Magna, na esperança de que ali seja o lugar onde está enterrado o famoso casal. A escavação já dura cinco anos e alguns achados recentes reforçam a esperança que os corpos de Cleópatra e Marco Antônio sejam encontrados.
Uma estátua sem cabeça de 1,80 metro, esculpida em granito preto, foi encontrada na entrada norte do templo e atribuída ao rei Ptolomeu IV, por causa de uma inscrição encontrada perto da base da figura. Ela, juntamente com outros indícios, coloca o templo como uma encomenda do rei, que viveu entre 221 e 205 a.C.
“Se você espera que este seja o local onde Cleópatra está enterrada, o mais tarde que for sua construção, maior a possibilidade que o templo ainda fosse usado durante a época de seu reinado,” explicou Salima Ikram, do Museu Egípcio do Cairo, que não participa da escavação em Taposiris.
Essa descoberta, além de estátuas dos deuses Ísis e Osíris, e restos do portão principal do templo, são as provas mais recentes que ligam Taposiris Magna à dinastia ptolemaica. O templo é conhecido desde a época de Napoleão Bonaparte, mas arqueólogos da época achavam que o templo não havia sido terminado. Hoje sabe-se que foi um templo bastante usado.
Já foram encontradas 12 múmias, 500 esqueletos e 20 túmulos. Os corpos foram enterrados de frente ao templo, o que significaria que o edifício contém a tumba de uma pessoa importante, segundo a chefe da escavações Kathleen Martinez. Dentro, havia uma fonte sagrada, aposentos para mumificação, e capelas dedicadas a Isis e Osiris, casal de deuses que pode ter inspirado os dois a fazer dali seu túmulo.
Um esconderijo perfeito
“Cleópatra seria Ísis e Marco Antônio Osíris,” explicou Zahi Hawass, diretor do CSA, que acompanha o trabalho. Já foram encontrados ali um busto de alabastro e moedas com o rosto da rainha. “Descobrimos que este é um dos templos mais sagrados de Alexandria durante o período ptolomaico,” diz Kathleen. “E por causa disso, acho que o túmulo de Cleópatra possa estar aqui”.
Hawass acredita que eles possam estar ali porque o casal deveria querer evitar que os conquistadores romanos achassem e violassem seus túmulos. Marco Antônio provavelmente suspeitava que Otaviano gostaria de desfilar os corpos por Roma para mostrar seu triunfo militar. Por isso, Cleópatra e o amante teriam preferido ser enterrados em um lugar sagrado porém longe dos aposentos reais de Alexandria.
Para isso, os arqueólogos estão usando radares em Taposiris Magna. Eles revelaram oito câmaras subterrâneas a ser exploradas. Só o tamanho do templo já dificulta a tarefa. “São cinco quilômetros quadrados. Precisamos de tecnologia para explorá-lo adequadamente. Como os romanos poderiam ter encontrado Cleópatra sem nada disso?”
(Com informações da AP e National Geographic)